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Foto do escritorOng Aquasis

Campanha busca chamar a atenção de órgãos públicos a fim de trazer peixe-boi de volta ao Brasil

Atualizado: 3 de jun. de 2023

Resgatado no Caribe venezuelano em setembro de 2022, Tico, o peixe-boi de origem cearense, espera por providências do Governo Federal para voltar ao Brasil.

Equipe venezuelana, após o resgate de Tico - Foto: Divulgação

Após sua soltura na praia de Peroba, município de Icapuí, no extremo leste cearense, o peixe-boi-marinho de nome Tico, que passou sete anos em processo reabilitação aos cuidados da ONG Aquasis, iniciou uma jornada sem precedentes rumo à águas caribenhas quando foi finalmente interceptado por equipes do governo venezuelando e hoje, encontra-se no Parque Zoológico y Botánico Bararida esperando uma posição do governo brasileiro para formalização dos trâmites, para o seu retorno.


Histórico de resgate e reabilitação

Tico encalhado na Praia das Agulha, município de Fortim, no ano de 2014 - Foto: Acervo Aquasis

O peixe-boi-marinho (Trichechus manatus) de nome Tico foi resgatado pela equipe da ONG Aquasis em 15 de outubro de 2014, quando ainda era um recém-nascido, após encalhar numa praia no litoral do Ceará, nordeste do Brasil. Tico recebeu os primeiros cuidados e foi reabilitado no Centro de Reabilitação de Mamíferos Marinhos da Aquasis, onde ficou até dezembro de 2020, quando estava com sete anos de idade.

Processo de reabilitação no CRMM da Aquasis, em Caucaia/CE - Foto: Acervo Aquasis

Translocação e aclimatação


Em dezembro de 2020, Tico foi transferido para o cativeiro de aclimatação da Aquasis, localizado no mar da Praia de Peroba, município de Icapuí, litoral leste do Ceará. Nesse recinto Tico passou a ter contato com o ambiente natural para que se adaptasse antes de ser solto.

Fase pré-soltura no Cativeiro de Aclimatação da Aquasis, município de Icapuí/CE - Foto: Acervo Aquasis

Soltura, Monitoramento e Deslocamento Errático

Cativeiro de Aclimatação, Icapuí/CE - Foto: Mika Holanda / Acervo Aquasis

Tico ficou até o dia 06 de julho de 2022 no cativeiro de aclimatação, data em na qual foi solto. Antes da soltura, foi acoplado ao animal um equipamento transmissor de sinal de rádio e de GPS para que a equipe de monitoramento pudesse acompanhar seu deslocamento.

Tico com transmissor de rastreamento, momentos antes da soltura - Foto: Mika Holanda / Acervo Aquasis

Tico permaneceu em Icapuí durante os dois primeiros dias. No entanto, a partir do terceiro dia, iniciou o deslocamento para oeste do estado do Ceará, e alguns dias depois atingiu águas profundas, o que preocupou a equipe e mostrou a necessidade de resgatá-lo, já que peixes-bois são animais que vivem em águas rasas. Nessa distância da costa, Tico foi exposto às fortes correntes marinhas oceânicas, o que dificultou o seu resgate.

Rastreamento via rádio, pela Equipe de Monitoramento - Foto: Mika Holanda / Acervo Aquasis

A equipe seguiu por terra desde o Ceará até o estado do Amapá tentando viabilizar a operação, mas o deslocamento era muito rápido e numa distância muito grande, o que tornou impossível a realização do seu resgate. Tico atingiu as águas internacionais da Guiana Francesa no início de agosto, o que limitou ainda mais a ação da Aquasis.


A partir desse momento, acreditava-se que Tico pudesse estar morto ou que o equipamento pudesse não estar mais acoplado ao animal, sendo as coordenadas recebidas somente do transmissor à deriva. Apesar disto, a equipe continuou monitorando as coordenadas emitidas pelo equipamento e, aproximadamente 45 dias após sua soltura em Icapuí, a Aquasis recebeu sinal de GPS próximo a Ilha de Tobago, em Trinidad e Tobago. Pesquisadores do país foram contactados e auxiliaram na verificação do equipamento após o repasse das coordenadas geográficas. De forma supreendente, os pesquisadores do local confirmaram que o Tico estava vivo na costa da ilha de Tobago.

Camila Carvalho em Trinidad e Tobago, acompanhando a migração de Tico - Foto: Ashley Aleong

A equipe da Aquasis embarcou para o país para tentar avaliá-lo e mobilizar o seu resgate, porém Tico deixou a ilha antes e seguiu se deslocando em direção ao Caribe venezuelano. A Aquasis entrou em contato com as autoridades da Venezuela, que se prontificaram a tentar captura Tico, conseguindo resgatá-lo no dia 5 de setembro de 2022. Tico foi mantido em quarentena num aquário particular e depois foi transferido para o Parque Zoológico y Botánico Bararida, na cidade de Barquisimeto.


Tico recebendo visita de populares, no Parque Zoológico y Botánico Barquisimeto, Venezuela - Foto: Divulgação
O deslocamento de mais de 5 mil quilômetros realizado por Tico é provavelmente o mais longo já registrado para um peixe-boi, sendo que, em alguns pontos, ele se deslocou a mais de 500 km da costa. Esse movimento é considerado errático e mostra uma desorientação, visto que Tico continuava nadando e não parou para explorar fontes de comida e de água doce, possivelmente inexistentes no percurso devido à distância da costa.

De forma bastante clara e embasada tecnicamente, a equipe da Aquasis demonstrou que a melhor alternativa para Tico seria o seu retorno para o Brasil, para que fosse feita uma nova tentativa de adaptação ao ambiente natural e à soltura. Dessa forma Tico contribuirá de forma efetiva para o aumento da população de peixes-bois e reforçará as estratégias de conservação dessa espécie criticamente ameaçada de extinção. Outros especialistas em sirênios do Brasil se mostraram favoráveis a essa iniciativa. No entanto, como Tico está em território estrangeiro, é necessária uma licença de exportação emitida pelo IBAMA, que é acompanhada de vários documentos, incluindo a concordância formal do governo venezuelano.

Rota da migração do Tico, partindo do Ceará até a Venezuela - Imagem: Google Maps

Desfecho


Logo que Tico chegou à Venezuela, a Aquasis se mobilizou para iniciar os trâmites para a sua repatriação, o que incluiu tratativas com ambos os governos. Especialistas em mamíferos aquáticos do ICMBio, órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente, solicitaram uma consulta a especialistas internacionais em sirênios para auxiliar na tomada de decisão sobre o destino de Tico.


Somente em março de 2023, houve reunião entre os órgãos do governo federal, dentre eles a Coordenação Geral de Licenciamento Ambiental de Empreendimentos Marinhos e Costeiros (CGMAC/IBAMA) e o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos (ICMBio/CMA), a Petrobras e a Aquasis, quando foi deliberado um desfecho favorável ao retorno do Tico, sendo consensuado entre CMA/ICMBio e IBAMA que a medida técnica mais adequada para o caso do Tico seria o retorno do animal ao Brasil para um nova tentativa de soltura.


Apesar do posicionamento favorável de órgãos ligados ao ICMBio e IBAMA, é necessário que o MMA solicite o contato com o governo da Venezuela por meio do Ministério de Relações Exteriores (MRE). Até o momento, não houve avanço interno no MMA para conhecimento do MRE e encaminhamento da questão.

Diante dessa situação, o processo de importação do Tico está paralisado. O animal já está há oito meses em cativeiro na Venezuela, com chances cada vez menores de conseguir voltar à natureza e cumprir suas funções ecológicas. Tico completará nove anos em outubro de 2023. Os protocolos do ICMBio recomendam a soltura de animais até os 10 anos de idade. O tempo para que Tico seja livre novamente está se esgotando depressa. Enquanto isso, as autoridades brasileiras continuam vendo esse tempo passar sem nada fazer.


Entretanto, até o momento, não houve avanço entre os órgãos responsáveis e as esferas do governo federal. Tico está a 08 meses sob os cuidados venezuelanos e, apesar dos esforços da Aquasis para contribuir com o retorno do Tico, somente as instâncias governamentais brasileiras podem contactar o governo venezuelano para que os trâmites necessários sejam acordados e providenciados.


Este relato é um pedido de ajuda para que o caso do Tico ganhe visibilidade e chegue até as esferas governamentais federais, as únicas que podem dialogar com o governo venezuelano a fim de que seja iniciado o processo para trazermos Tico de volta ao Brasil.


Para mais informações, entre em contato: faleconosco@aquasis.org


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