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Foto do escritorMika Holanda

Aves ameaçadas de extinção que nasceram no Parque das Aves viajam nesta terça para Fortaleza, no Ceará

Os dois filhotes de periquito-cara-suja nasceram em 2023 em Foz do Iguaçu, no Paraná, e vão passar para os cuidados da Aquasis, que trabalha para salvar a espécie da extinção.


Foto: Fábio Nunes / Acervo Aquasis


Dois indivíduos da espécie periquito-cara-suja (Pyrrhura griseipectus) nascidos no Parque das Aves, em Foz do Iguaçu, vão viajar de avião para Fortaleza, no Ceará, nesta terça-feira (23/01). As aves fazem parte do Projeto Cara-Suja, da Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos - Aquasis, que busca translocar a espécie em seu ambiente natural, localizado em duas regiões cearenses. Desde 2006 a Aquasis atua monitorando a população da espécie em seu ambiente natural e desde 2021 vem realizando ações de translocação para voltar com indivíduos para áreas onde antes a espécie prosperava naturalmente.


"Estamos muito orgulhosos com a ida dessas aves para o Projeto Cara-Suja, da Aquasis. Foi um trabalho árduo, com muitas etapas, de uma grande parceria entre as duas instituições, iniciado em 2018. Vivenciar este resultado na prática traz uma felicidade imensa a todo o time do Parque das Aves. Cada filhote nascido aqui que volta para sua região de origem dá a sensação de dever cumprido, porque estamos de fato contribuindo para mudar positivamente a história de aves ameaçadas de extinção no Brasil. Temos muita honra de trazer uma contribuição para este feito!”,

comenta Paloma Bosso, diretora técnica do Parque das Aves.


Os periquitos-cara-suja foram enviados em caixas de transportes feitas pela equipe de Infraestrutura do Parque das Aves, seguindo a legislação da IATA (Associação Internacional de Transportes Aéreos). Além das medidas adequadas para o bem-estar dos animais, a caixa possui elementos internos e externos, como uma janela e cortina, que permitem observar as aves.


"Os dois caras-suja embarcam no Aeroporto de Foz do Iguaçu, em um voo previsto para decolar às 8h30. A preparação para a viagem vai começar bem cedo, pois é necessário chegar no aeroporto com pelo menos três horas de antecedência. Organizamos tudo nas primeiras horas da manhã, garantindo que as aves estejam confortáveis e tranquilas nas caixas de transporte. Após aterrissarem no Aeroporto de Fortaleza, as aves seguirão direto para a sede da Aquasis onde permanecerão antes de irem definitivamente para seu novo lar, ainda a ser definido", comenta Paloma.


“É possível salvar espécies ameaçadas de extinção em nosso país, e o periquito-cara-suja é o melhor exemplo disso. A vinda das duas aves nascidas em Foz do Iguaçu para o Ceará é apenas mais uma parte desse grande todo que é a sua conservação. E a parceria com o Parque das Aves tem sido valiosa, pois somente trabalhando juntos vamos conseguir reverter a situação de ameaça que o periquito-cara-suja enfrenta hoje”,

finaliza Fábio Nunes.


Parque das Aves e seu papel na conservação do periquito-cara-suja

Em maio de 2019, um grupo de 12 caras-suja, resgatados do tráfico e provenientes da Serra de Baturité, foi entregue ao Parque das Aves pela Aquasis e por órgãos ambientais. Apesar de um início desafiador, incluindo um período sem posturas, seguido por outro com posturas inférteis, ajustes no manejo e monitoramento constante levaram ao nascimento dos primeiros filhotes em abril de 2023. 


Fábio Nunes e Mateusz Stycz recendo os dois filhotes vindo do Parque das Aves | Foto: Mika Holanda / Acervo Aquasis


“Em março de 2023, celebramos um marco significativo com as primeiras posturas férteis do grupo que resultaram no nascimento dos primeiros filhotes em abril, cuidadosamente criados por nossa equipe técnica. Aos 84 dias de vida, em junho de 2023, estes filhotes deram um passo importante em seu desenvolvimento, sendo transferidos para um recinto onde integraram um grupo maior. Esta etapa foi crucial, pois neste local, além de interagirem com indivíduos da mesma espécie, eles tiveram a oportunidade de aprimorar suas habilidades de voo em um espaço complexo, características estas de extrema relevância no preparo para a translocação”, comenta Paloma.


Periquito-cara-suja, espécie endêmica da Mata Atlântica nordestina

O periquito-cara-suja (Pyrrhura griseipectus) é uma ave endêmica da Mata Atlântica nordestina, ou seja, só ocorre nesse bioma. Antes era comum em áreas dos estados do Ceará, Alagoas e Pernambuco, mas atualmente se restringe a cinco áreas: Serra do Baturité (onde se encontra a maioria da população), Quixadá, Canindé e Ibaretama, todas regiões no Ceará, e também em uma pequena região na Bahia.


Atualmente, a espécie se encontra na categoria Em Perigo de extinção (EN) tanto na lista vermelha nacional, estabelecida pelo Ministério do Meio Ambiente, como na lista vermelha global, da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Entre as principais ameaças que colocam em risco o periquito-cara-suja de desaparecer está a perda de seu ambiente natural e a captura de filhotes para abastecimento do tráfico de animais.


O Projeto Cara-suja, da Aquasis

O periquito-cara-suja sofreu uma série de extinções locais nos últimos 50 anos em sua distribuição original no Nordeste do Brasil. As medidas de conservação intensificadas na última década pela Aquasis, como o programa de caixas-ninho e campanhas de conscientização junto aos moradores locais, melhoraram tanto o estado de conservação desta ave que ela deixou de ser classificada como Criticamente em Perigo (CR) e passou para Em Perigo (EN).


“Essa espécie de periquito é muito conhecida na região, e é comum que as pessoas criem essas aves em gaiolas nas suas casas. Por causa desse hábito, a espécie quase desapareceu. Incêndios, doenças, perda de habitat e captura, intensificados pela ação das mudanças climáticas, demandam ações para prevenir a extinção da espécie. Em vista dessas ameaças, uma das prioridades da Aquasis hoje para a conservação do periquito-cara-suja é a instalação de caixas-ninhos e a sua reintrodução em áreas de ocorrência histórica, ação reconhecida pelo Plano de Ação Nacional para a Conservação das Aves da Caatinga”,

explica Fábio Nunes, coordenador do Projeto Cara-Suja.


Anualmente ocorre o Censo de População do Cara-suja, atividade que consiste em fazer o levantamento populacional das aves, mobilizando voluntários e pesquisadores que realizam contagens nos dormitórios previamente identificados das aves. Colaboradores do Parque das Aves participaram do censo em 2019 e 2022. Com os dados do censo em mãos, é possível traçar estratégias eficientes para promover a melhor proteção ao periquito-cara-suja. 


“Realizamos, desde 2017, o censo do periquito-cara-suja. Ficamos 2 anos sem realizar as atividades de contagem por causa da pandemia, mas voltamos em 2022 com força total. O intuito do censo é compreender a dinâmica das populações, se as caixas-ninhos instaladas pela nossa equipe estão tendo impacto positivo esperado para a reprodução da espécie e analisar as taxas de sobrevivência. Todos os anos que realizamos esse trabalho em campo abrimos espaço para a participação de voluntários, da comunidade local, estudantes, pesquisadores, o que nos enche de alegria de ver tantas pessoas engajadas em prol da conservação”, comenta Fábio. 


No último censo foram contabilizados 863 caras-suja no total, uma diferença de 206 a mais quando comparado com o censo anterior, evidenciando que as ações de conservação da espécie estão surtindo os efeitos esperados, visto que a população de periquito-cara-suja já chegou a ter menos de 100 indivíduos antes de 2010.


Trabalho com a comunidade local

Um dos grandes sucessos nas ações de conservação feitas pela Aquasis está no engajamento com a comunidade local e estudantes, visto ser essencial ter diferentes parceiros multiplicadores, pois ações conservacionistas efetivas sempre são feitas envolvendo vários fatores.


"É impressionante ver o incrível trabalho que a Aquasis faz na região com a comunidade. A população valoriza e reconhece cada vez mais a importância da ocorrência da espécie na região! Foi muito recompensador presenciar isso pessoalmente",

comenta Paloma, que acompanhou o censo em 2019.

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